Testes Viscoelásticos na Avaliação de Alterações da Hemostase na Infeção por SARS-COV-2 

Testes Viscoelásticos na Avaliação de Alterações da Hemostase na Infeção por SARS-COV-2

Anabela RODRIGUES 1); Teresa SEARA SEVIVAS 2); Carla LEAL PEREIRA 1); André CAIADO 3); António ROBALO NUNES 4)

1. Serviço de Imuno-hemoterapia. Hospital Santa Maria. Centro Hospitalar de Lisboa Norte. Lisboa. Portugal.

2. Serviço de Sangue e Medicina Transfusional. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Coimbra. Portugal.

3. Serviço de Imunohemoterapia. Hospital de São José. Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central. Lisboa. Portugal.

4. Serviço de Medicina Transfusional. Hospital das Forças Armadas. Pólo de Lisboa. Lisboa. Portugal.

RESUMO

A coagulopatia associada à COVID-19 é uma disfunção associada à infeção SARS-CoV-2 grave, caraterizada por aumento significativo do fibrinogénio, D-dímeros e Proteína C reativa, e por valores normais/muito pouco alterados do tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativado, e número de plaquetas. A hipercoagulabilidade e a hipofibrinólise coexistem e são detetadas por testes viscoelásticos. Quando associadas à imobilização e aos fatores de risco intrínsecos do doente (idade, obesidade, comorbilidades, drogas) potenciam eventos tromboembólicos, apesar da tromboprofilaxia. Os pulmões são o órgão inicialmente e mais gravemente afetado. Até à data, a maioria dos doentes apresentou hipercoagulabilidade nos testes viscoelásticos, não detetada pelos testes de coagulação de rotina, e foi reportada uma elevada taxa de eventos trombóticos, sugerindo que esta deveria ser considerada uma das causas de deterioração clínica, não só em cuidados intensivos. Na coagulopatia associada à COVID-19 avançada, o número de plaquetas e o fibrinogénio podem diminuir significativamente, dependendo da gravidade clínica da infeção, assemelhando-se o quadro a uma coagulopatia de consumo. Nesta fase pode haver hemorragia, especialmente se o doente estiver sob extracorporeal membrane oxygenation. Os testes viscoelásticos afiguram-se muito úteis para avaliar a hipercoagulabilidade e a hipofibrinólise em doentes críticos SARS-CoV-2 com coagulopatia associada à COVID-19, parecendo também promissores para a gestão da anticoagulação. No entanto, é necessária mais investigação para determinar se testes viscoelásticos alterados, individualmente ou quando combinados com outros resultados clínicos/laboratoriais, podem identificar os doentes com risco trombótico acrescido. Estão a emergir rapidamente ensaios clínicos para avaliação da hipercoagulabilidade por testes viscoelásticos e da necessidade de personalização da anticoagulação em doentes SARS-CoV-2.

ABSTRACT

COVID-19 associated coagulopathy is a dysfunction of severe SARS-CoV-2 infection, characterized by significantly increased fibrinogen, D-dimer and C reactive protein and normal to near-normal prothrombin time, activated partial thromboplastin time and platelet count. Hypercoagulopathy and hypofibrinolysis coexist and are detected by viscoelastic tests. These features, when associated with immobilization and intrinsic risk factors (age, obesity, comorbidities, drugs) of the patient, can trigger thromboembolic events, despite thromboprophylaxis. The lungs are the first and most severely damaged organ. To date, most patients have exhibited hypercoagulability on viscoelastic tests not detected by standard coagulation tests. A high rate of thrombotic events was reported, suggesting that it should be considered as a cause of clinical deterioration in intensive care and potentially other clinical settings. In advanced stage, COVID-19 associated coagulopathy, fibrinogen and platelet count can decrease significantly, depending on the severity of clinical status resembling consumptive coagulopathy. In this stage, bleeding events can occur, especially if the patient is under extracorporeal membrane oxygenation (ECMO). Viscoelastic tests are very useful tools to assess hypercoagulability and hypofibrinolysis (not detectable by standard coagulation tests) in critically ill SARS-CoV-2 patients with COVID-19 associated coagulopathy and look like very promising tools for anticoagulation management. However, further research needs to be carried out to determine whether abnormal viscoelastic tests alone or in combination with other clinical or laboratory findings can identify patients at increased thrombotic risk. Clinical trials to evaluate hypercoagulability using viscoelastic tests and the need for personalized dosage of anticoagulation in SARS-CoV-2 patients are quickly emerging.